quinta-feira, 12 de abril de 2018

100 anos da Batalha de La Lys

Muitos dos homens que tiveram a infelicidade de embarcar nesta guerra, não conheciam outra máquina, se não, a sua charrua, com que lavravam a terra. 
Foi uma guerra caracterizada pela banalidade do horror, um verdadeiro inferno. Todos os relatos que se vêm ou ouviram, dizem isso mesmo. As condições de vida nas trincheiras eram degradantes, com agua a dar pelos joelhos, ratos, doenças e frio constante.


As tropas estavam desanimadas, devido à falta de barcos, as tropas portuguesas não foram rendidas
pelas britânicas, o que provocou um grande desânimo nos soldados.
- Além disso, alguns oficiais, com maior poder económico e influência, conseguiram regressar a Portugal, mas não voltaram para ocupar os seus postos.
- O moral do exército era tão baixo que houve insubordinações, deserção e suicídio O armamento alemão era muito melhor em qualidade e quantidade do que usado pelas tropas portuguesas o qual, no entanto, era igual ao das tropas britânicas.
- O ataque alemão deu-se no dia em que as tropas lusas tinham recebido, ordens para, finalmente, serem deslocadas para posições mais à retaguarda.
- As tropas britânicas recuaram em suas posições, deixando expostos os
flancos do CEP, facilitando o seu envolvimento e aniquilação.

Adenda: Sabia já algum tempo que o meu Bisavô, tinha estado na grande Guerra. Mas não sabia nada mais além disso. Iniciei uma busca incansável por saber mais pormenores da sua presença no CEP.
Descobri, que se chamava João Ramos, embarcou a 23 de Maio de 1917. E foi dado como desaparecido a 9 de Abril de 1918, e feito prisioneiro de guerra no campo de Merseburg.
Consegui esta informação neste site AQUI.
Onde é possível procurar por distrito e localidade, praças, sargentos e oficiais, que serviram no CEP.


aqui, tinha falado da 1º Guerra Mundial.

Na noite de 8 para 9 de Abril, a divisão 81º Alemã recua para dar lugar a oito divisões que ao todo constituam cerca100 mil homens, preparam-se para eliminar o sector português.
Por volta das 4h da manhã, as peças de artilharia começam a bombardear. Mais tarde, depois dos estragos já causados pela artilharia, os alemães, começam o assalto das posições portuguesas por volta das 7h.
Em alguns pontos, os portugueses tentam aguentar como podem, sendo que em alguns casos, chega-se a luta corpo a corpo.





As baixas são enormes no sector português. A 5ª brigada, cumpre a ordem de não recuar e morrer na linha B, e perde cerca de 60% dos seus efectivos.
Pelas 12 Horas, os alemães tinham chacinado o CEP (corpo expedicionário Português), e em dois dias foram aprisionados mais de 6000 homens. A cansada e mal preparada segunda divisão Portuguesa, sofre, o que era inevitável.



No entanto, é de realçar o facto de a ofensiva "Georgette" se tratar duma ofensiva já próxima do desespero, planeada pelo Alto Comando da Alemanha Imperial para causar a desorganização em
profundidade da frente aliada antes da chegada das tropas norte-americanas, que nessa altura se encontravam prestes a embarcar ou já em trânsito para a Europa.

Apesar de ser considerado uma derrota táctica para Portugal, constituindo a maior catástrofe militar portuguesa depois da batalha de Alcácer-Quibir, em 1578.
 mas apesar dos sucessos iniciais dos Alemães, estes não viriam a alcançar o objectivo principal, que era empurrar os britânicos para o mar, devido á resistência das tropas portuguesas.

Ficará para sempre, guardado, o heroísmo com que alguns homens combateram até a ultima bala. Esta resistência do CEP é geralmente pouco valorizada em face da derrota. Trata-se de uma batalha
com muitos mitos em volta a distorcerem a percepção do realmente passado nesse dia 9 de Abri.

Uma situação análoga à da batalha de La Lys foi a da contra-ofensiva
alemã nas Ardenas na parte final da Segunda Guerra Mundial, a (Batalha do Bulge),que merece comparação pelas semelhanças entre ambas.

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 Pertencendo à categoria dos "incultos, rudes, mal educados, sem preparação, sem maneiras", é nesta vida selvagem da trincheira que mostram o que são e o que valem; - verdadeiros tesouros sem baixeza nem crueldade. Espreitam o alemão pela ranhura de mira da alça e metem-lhe a bala na cabeça, se o "boche" cai em a meter na sua linha de mira; mas se um "boche" que o fere, levanta em seguida, ferido também, as mãos, agarra nele, leva-o à ambulância, cura-o, dá-lhe o seu pão, dá-lhe o seu vinho, dá-lhe a sua camisa.



Devemos todos inclinar-nos cheios de respeito e cheios de admiração diante deste pobre  "gambúzio", que meteram num navio com uma arma às costas, sem lhe dizerem para onde ia; que colocaram numa trincheira diante do "boche", sem lhe dizerem por que se batia; que passou meses queimado pelo sol do fogo, enregelado pela neve, atascado em lama, encharcado, tiritando com frio, encolhido num buraco enquanto as granadas lhe estoiram em redor; carregando à baioneta quando o "boche" avança e que, com uma perna partida, ou o crânio amachucado por uma bala, estendido no catre da ambulância, ao ver-nos, tinha uma alegria imensa no olhar, murmurando:
 
    -  O nosso giniral! Aí vem o nosso giniral!
    - Oh meu giniral, agora ganhei a Cruz de Guerra? Pois não?

 
E nunca me há de esquecer a impressão que um destes pobres seres me causou, quando, ao pregar-lhe a Cruz na camisa da ambulância que vestia, o pobre, não podendo mexer os braços, ambos partidos, estendeu a cabeça e me beijou as mãos...
E outro, muito pequeno, a quem ao dar-lhe o abraço que era costume meu dar àqueles que recebiam a Cruz de Guerra, me abraçou pela cintura e ali ficou preso numa convulsão...
São verdadeiros tesouros, que não podemos deixar de estimar e admirar depois de com eles viver na guerra. E é por isso que natural e instintivamente, os que como eu compreendem põem na continência, com que à sua correspondem, um respeito real e sincero, que está fora dos nossos hábitos.
 E há resmungões no meio de isto tudo, porque resmungar é uma paixão do soldado, ou por outra uma distracção, quando tudo corre bem! Pelo contrário, quando tudo vai mal, ninguém resmunga.
 
 Ao terminarem um parapeito, com toda a perfeição, a terra varrida à vassoura, os taludes bem direitos, as arestas bem vivas, vem um morteiro pesado e esmaga tudo.
O bom do "gambúzio" olha para a sua obra de oito dias destruída, e resmunga:
     -  Ora, responde outro, isto é bom para não engordarmos muito.
A noite é escura, o frio aperta, os homens estão cobertos de lama gelada, o seu dia de trabalho destruiu-o o "boche" num minuto, é preciso recomeçá-lo; e, sem mau humor, recomeçam-no.
Era preciso uma pena fácil e elegante para mostrar a todo o Portugal quanto valem os nossos soldados e quanto merecem que por ele façam.
 
 
A morte, encaram-na de frente e rindo, e em cada minuto da vida de trincheira praticam actos de generosidade, desprendimento e heroísmo espontâneo, que na vida civil estabeleceriam reputação."
                                                          Gomes da Costa
                                                                 General
                                      Comandante da 1.ª e 2.ª Divisão do C.E.P.

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